Por David Camargo e Arildo Nizer
25 de outubro de 2023. A revolução
tecnológica não é um conceito novo, mas o ritmo acelerado de avanço da Inteligência Artificial (IA) está reconfigurando o mercado de trabalho de maneiras nunca antes vistas. Uma das indústrias mais afetadas por essa transformação é o setor bancário, cujas funções e serviços têm sido radicalmente transformados.
Historicamente, os bancos foram percebidos como pilares de estabilidade, com procedimentos tradicionais e funções manuais. Contudo, a IA introduziu inovações que eliminaram diversas dessas funções, levando a uma reestruturação profunda do setor.
Como advogados que representam clientes bancários, testemunhamos em primeira mão o desaparecimento de várias funções bancárias. Caixas bancários, por exemplo, uma profissão outrora predominante, está sendo gradativamente substituída por terminais de autoatendimento e aplicativos bancários.
Os antigos "gerentes de contas", que antes cuidavam pessoalmente das necessidades financeiras dos clientes, agora enfrentam a concorrência de sistemas automatizados capazes de analisar riscos, gerenciar investimentos e até mesmo oferecer conselhos financeiros personalizados.
Não é apenas o atendimento ao cliente que está sendo impactado. Funções de back-office, como processamento de dados e análise de crédito, agora são realizadas por algoritmos sofisticados que processam informações em uma fração do tempo que um ser humano levaria.
O setor bancário, outrora baseado em interações humanas, está sendo remodelado por uma combinação de automação e análise de dados. As transações tornaram-se instantâneas, e a acessibilidade aos serviços bancários nunca foi tão ampla.
Entretanto, com essa evolução, surgem novos desafios. A segurança dos dados dos clientes tornou-se uma preocupação primordial, com bancos investindo significativamente em tecnologias para garantir a integridade das informações.
Além disso, a necessidade de requalificação da força de trabalho bancária é evidente. A capacitação tornou-se fundamental para que os profissionais se adaptem a essa nova realidade e possam agregar valor de maneiras diferentes.
Para os bancários que buscam se adaptar a essa nova era, é crucial entender a IA, não apenas como uma ferramenta, mas como uma parceira. Aqui estão algumas dicas para navegar neste cenário em constante mudança:
1. Capacitação Contínua: Participe de cursos, workshops e seminários sobre Inteligência Artificial e suas aplicações no setor bancário.
2. Entendimento Prático: Experimente as novas ferramentas e plataformas baseadas em IA para obter uma compreensão prática e não apenas teórica.
3. Colaboração Interdisciplinar: Trabalhe em estreita colaboração com especialistas em tecnologia dentro de sua organização. O diálogo entre áreas pode trazer insights valiosos.
4. Desenvolvimento de Soft Skills: Em um mundo dominado pela IA, habilidades como empatia, comunicação e resolução de problemas complexos são mais valorizadas do que nunca.
5. Mantenha-se Atualizado: A tecnologia está em constante evolução. Subscreva newsletters, leia artigos e participe de fóruns relacionados à IA.
6. Participe de Redes de Networking: Junte-se a grupos e associações que focam em tecnologia e inovação no setor bancário. A troca de experiências é vital.
7. Mindset Aberto ao Novo: Abra-se à inovação e esteja disposto a aprender e adaptar-se constantemente.
O aprendizado contínuo e a adaptabilidade são agora competências cruciais. O profissional bancário do futuro não será apenas aquele familiarizado com finanças, mas também com tecnologia e inovação.
Muitos temem que a IA resulte em uma redução drástica de empregos no setor. No entanto, é essencial reconhecer que a IA também cria novas oportunidades e funções. Por exemplo, surgiram papéis focados exclusivamente em ética de IA, garantindo que os algoritmos bancários operem de maneira justa e imparcial.
Da mesma forma, o aconselhamento financeiro personalizado, potencializado pela IA, pode levar a uma abordagem mais holística do planejamento financeiro, onde os bancários se transformam em consultores estratégicos, fornecendo insights baseados em análises de dados aprofundadas.
Além disso, enquanto as máquinas podem processar transações e analisar dados rapidamente, ainda requerem supervisão humana para garantir a precisão e a integridade. Cargos como "supervisores de IA" ou "auditores de algoritmos" estão se tornando cada vez mais relevantes, à medida que os bancos buscam manter a confiabilidade de seus sistemas automatizados.
A IA também tem o potencial de democratizar o acesso a serviços financeiros. Com a capacidade de processar grandes volumes de dados, os bancos podem oferecer produtos financeiros personalizados para segmentos da população anteriormente negligenciados. Isso abre portas para especialistas bancários focados em inclusão financeira e desenvolvimento de produtos para nichos específicos.
O desafio ético é outro aspecto que não pode ser ignorado. À medida que os bancos adotam tecnologias de IA, torna-se imperativo garantir que os algoritmos tomem decisões justas e não discriminatórias. Profissionais com formação em ética, direito e finanças encontrarão um papel vital na construção de um setor bancário mais transparente e responsável.
Portanto, em vez de temer a automação, os bancários devem vê-la como uma oportunidade para crescer e se diversificar. Afinal, a tecnologia, por mais avançada que seja, é apenas uma ferramenta. O elemento humano – a capacidade de pensar criticamente, de se conectar com outros e de compreender nuances – permanecerá insubstituível.
O que vemos é que a IA não é uma força que vem para eliminar, mas sim para transformar. A indústria bancária, como conhecemos, pode estar mudando, mas isso não significa que os bancários estão se tornando obsoletos. Pelo contrário, as oportunidades para aqueles dispostos a aprender e adaptar-se nunca foram tão vastas.
A inteligência artificial, portanto, não é o fim, mas um novo começo. Um começo que requer visão, adaptabilidade e, acima de tudo, uma vontade incessante de aprender e evoluir. O futuro do trabalho bancário é brilhante para aqueles que abraçam a mudança e veem a IA não como uma ameaça, mas como uma aliada.
Em conclusão, enquanto o cenário bancário está passando por uma profunda transformação devido à adoção da IA, é crucial que os profissionais do setor enxerguem essas mudanças como oportunidades para reinventar-se. Aqueles que se mantiverem atualizados, flexíveis e abertos à inovação estarão melhor posicionados para prosperar neste novo mundo que se desenha à nossa frente.
Dr. David Camargo, é advogado em Campo Mourão/ Paraná, sócio fundador do escritório ADVPREV® - DAVID CAMARGO & ADVOGADOS ASSOCIADOS, especialista em Direito do Trabalho.
Dr. Arildo Nizer é advogado em Curitiba/ Paraná, sócio do escritório ARILDO NIZER & ADVOGADOS, especialista em direito do trabalho.
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